«Cavaco Silva tem inteira razão: existe nervosismo a mais na Assembleia e em S. Bento. Mas o Presidente não deve olhar apenas para um dos lados. Existe o outro lado, onde estão os portugueses comuns: gente que lê, entre o pasmo e o horror, as escutas publicadas pelo ‘Sol’. Discutir a legalidade da publicação das mesmas é interessante. Mas esse debate não altera a fatalidade política de as conhecermos. No fundo, de conhecermos um plano que envolve o governo para controlar a comunicação social, limitar a liberdade de expressão e até condicionar a actuação do Presidente.
Claro que, para 2010, este não era o prato que Cavaco esperava encontrar: com os mercados internacionais de olho na paróquia e uma recandidatura a Belém no horizonte, a realidade é indigesta.
Infelizmente, há coisas mais indigestas do que a realidade: a negação dela, ou seja, a negação de que há sinais de que o regime apodrece. A pergunta é inevitável: o Presidente confia ainda neste primeiro-ministro? A resposta será também uma avaliação do seu legado.»
[JPC, Correio da Manhã, 7/2/2010]
2 comentários:
Que o teor das escutas publicadas é grave, não se pode negar. Mas daí a afirmar que existe um plano que "envolve o governo para controlar a comunicação social, limitar a liberdade de expressão e até condicionar a actuação do Presidente" já é dar um passo maior do que as pernas. Em relação a este assunto há algumas notas que devem ser tidas em conta na avaliação das referidas "escutas". É necessário ter em atenção que o que foi publicado pelo jornal Sol são apenas excertos descontextualizados das escutas em si mesmas consideradas - e avaliar o todo pela parte, não raras vezes dá asneira. Neste sentido, apenas a publicação integral das escutas permitiria perceber se o tal plano de controlo da comunicação social existe, ou não. E deixe-me que lhe diga que ler transcrições de escutas não é uma tarefa nada agradável - é bom para combater insónias!!!
Parece-me que este assunto está a ser demasiado empolado. Se existir uma tentativa real de controlar a comunicação social, por parte de quem quer que seja, então é aos tribunais que cabe o poder de tomar as devidas medidas. E o argumento de que os tribunais deixaram passar o caso só não colhe pelo motivo referido - as escutas não foram integralmente divulgadas.
No que respeita ao Presidente da República, apenas um breve apontamento - é claro que a confiança neste Governo já não existe. Mas quererá o PR deixar como marca do seu "legado", considerando que terá em vista uma eventual eleição, o encetar de uma crise política que poderá ter efeitos desastrosos no país???
Maria, blá blá blá, blá blá blá e apenas um breve apontamento - quererá o PR deixar como marca do seu "legado" o facto de ter deixado passar em branco toda esta trapalhada???
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