terça-feira, 9 de março de 2010

Sugestões

"Cede de boa vontade a honra que te é feita, de te sentares em primeiro lugar; convidado que és a tomar um lugar de maior distinção, dispensa-a de uma forma afável; se insistirem, por diversas vezes e com convicção, e se a pessoa que te fizer tal pedido desfrutar de alguma autoridade, aceita, mas com modéstia, resistir mais pareceria um sinal de obstinação, e não de educação."
Este, simpático e actual, manual de educação para a juventude foi publicado em 1530, sendo seu autor Desidério Erasmo de Roterdão.

Erasmo de Roterdão (1469-1536) foi, sem dúvida, a personalidade cultural europeia mais importante da sua época não só pela sua actuação em prol da reforma não-violenta dos costumes, religião e mentalidades da Europa, impulsionando-a sair das limitações da Idade Média e introduzindo-a na sabedoria livre e harmoniosa do Renascimento, como, sobretudo, pelos muitos livros que escreveu, traduziu, restabeleceu ou comentou e pela rede de contactos que dinamizou, seja nas suas inúmeras viagens pela Europa seja pela via epistolar, destacando-se entre os seus melhores amigos Thomas More, John Colet, John Fisher, Reuchlin, Budé, Dürer, Aldo Manúcio, Fröben e Damião de Góis.
A sua criatividade pedagógica resistiu à passagem do tempo e obras como o “Elogio da Loucura”, o “Modo de orar a Deus”, os “Adágios” e os “Colóquios”, continuam a ser apreciados, traduzidos e comentados. Algumas citações de Erasmo:
- Por muito que os antigos tenham dito,muito deixaram para ser dito pela posterioridade.
- Defendo a existência do menor número de leis possíveis, que sejam bem conhecidas de todos, e que respondam ao arquétipo da honestidade e da equidade, sem outra intenção que o bem comum poder ser melhor prosseguido. Todas as leis devem dirigir-se sempre à utilidade pública, não segundo a opinião vulgar, mas de acordo com o parâmetro da sabedoria.
- A “filosofia de Cristo” que o próprio Cristo chama um renascimento não é senão a restauração da natureza fundada boa.
- Os que adornam os mosteiros com custo excessivo, quando tantos templos vivos de Cristo estão em perigo de morrerem à fome, tiritam despidos, e são torturados pela falta dos bens necessários, parecem-me culpados de um crime capital.
- Não nego que procuro a paz sempre que possível. Sou a favor de ouvir ambos os lados com ouvidos bem abertos. Amo a liberdade. Não servirei, nem posso servir nenhum partido .

[FTM]

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