domingo, 7 de novembro de 2010

Tribunais Populares

Pedro Passos Coelho pretende responsabilizar civil e criminalmente quem espatifou as contas públicas. Uma ideia populista e perigosa em tempos de histeria colectiva? Não na cabeça do dr. Passos, que já anda por aí em campanha eleitoral com o nobre propósito de despejar o eng. Sócrates em 2011. Acontece que a tarefa é mais difícil do que o PSD imagina. Sim, uma moção de censura seria o caminho directo para o tesouro. Mas o dr. Passos sabe, e o dr. Louçã já avisou, que a esquerda não votará com a direita para derrubar o governo. Essa porta está fechada. Como está fechada a porta presidencial, sempre avessa a aventuras do tipo e perpetuamente obcecada com a ‘unidade nacional’. Sobra ao dr. Passos esperar que o PS ‘profundo’ se levante em armas contra o pérfido e usurpador Sócrates, isto se o pérfido e usurpador Sócrates não tiver, como se prevê, mais uma vitória norte-coreana no próximo congresso. O PSD quer voltar rapidamente ao poder; mas nenhum dos atalhos parece aberto de momento. Se calhar, a única solução que resta é mesmo pôr os tribunais a fazer o trabalho sujo da política.
[Crónica no Correio da Manhã]
[JPC]

Um boneco

Tirando os ataques à ineficácia de Cavaco e à maldade dos ‘mercados’, Manuel Alegre não acha nada sobre coisa nenhuma. Esta semana, em peregrinação aos sindicatos, o candidato presidencial inaugurou uma nova forma de fazer política, que consiste, essencialmente, em não a fazer.
Confrontado com a greve geral, Alegre não apoia nem deixa de apoiar, embora compreenda ou talvez não. A posição de Alegre é interessante e explica-se pela camisa-de-forças em que o candidato se meteu, dramaticamente dividido entre o PS e o Bloco. Mas, pergunto, não haveria uma forma caridosa de poupar o bardo a estes vexames? Penso que sim. Bastaria que a candidatura de Alegre enviasse o próprio para casa e, em seu lugar, mandasse fazer um boneco de cera, em tamanho natural, que poderia ser levado para comícios, debates e outros contactos com o povo. A coisa animava a campanha e o boneco, quando confrontado com qualquer questão, poderia sempre responder um ‘não-concordo-nem-deixo-de-concordar’. Era só puxar o fio ou, melhor ainda, enfiar uma moeda. A campanha pagava-se a si mesma.
[Crónica no Correio da Manhã]

[JPC]