Rigorosamente nada a dizer sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Já tudo foi dito, e em todas as direcções, desde a «hecatombe nos costumes» até ao «avanço civilizacional». A lei foi aprovada na Assembleia, segue-se um périplo que incluirá a verificação da constitucionalidade (duvidosa) e o regresso à normalidade. Daqui a um ano, estatísticas nos jornais. Simplesmente, estas coisas não são estatísticas e têm a ver com a vida real, onde as leis fazem sombra. Politicamente, a direita perdeu porque não soube — desde o princípio — lidar com o problema nem falar com clareza sobre o assunto. A conversa sobre «a finalidade do casamento» não era coisa para campanha eleitoral; e foi a única vez que o assunto foi tratado. A triste (tristonha) invocação de valores ancestrais não basta para enfrentar questões de hoje; e é uma pena que a legislação sobre uniões de facto não tivesse sido aproveitada para iniciar essa discussão. A direita teve vergonha, os homossexuais conservadores tiveram vergonha. Nos livros de Andrew Sullivan rasgam as partes inapropriadas.
Foi também a direita a culpada desta radicalização ligeiramente folclórica, permitindo que o discurso político pudesse ser apopriado por um discurso de género. Fazer política não é reagir; é antecipar. A invenção da união civil registada, à pressa, às portas da votação e em plena discussão, é a prova desta incompetência (que ameaça ser genética) do PSD para tratar questões que ultrapassem as minudências das comissões parlamentares. A fractura foi feita. Sigamos em frente. [Também aqui.]
[FJV]
1 comentário:
De há uns anos para cá o PSD tem-se tornado num partido reactivo, por isso não é de admirar que, mais uma vez, tenha deixado que as coisas chegassem a este ponto. É tudo uma questão de poder de argumentação. Quer se goste, ou não, Portugal é um país conservador e de brandos costumes. Se a oposição tivesse sabido utilizar a linha de argumentação correcta, o PS não teria tido a coragem política para aprovar esta lei, desta forma. Mas é sempre mais fácil reagir do que agir. O PSD perdeu o norte da proactividade, tornando-se num partido reactivo e desprovido de qualquer poder de análise prospectiva. É como diz - isto assim não é fazer política, é brincar aos políticos.
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