sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Uma parábola

No Brasil, o escândalo do mensalão e o processo judicial que se lhe seguiu foi a crise mais séria do governo de Lula. As autoridades tentaram impedir a imprensa de publicar escutas; mesmo assim, não era e não foi necessário (até que foi pedido, judicialmente, que certos jornais fossem impedidos de dar notícias sobre fulano e cicrano — situação que ainda se vive, creio eu, no Estado de São Paulo). O PT, o partido de Lula, além das organizações leninistas que o acompanham (a CUT, o MST, etc.), lançaram os piores ataques contra a imprensa (sobretudo a Veja, a Folha de S. Paulo e o Estadão), com os militantes, irados, queimando jornais e revistas na rua. Nada feito. A imprensa tinha feito o trabalho de casa e é justo dizer que nenhum jornal português lhes chega aos calcanhares. A cada mentira dos dirigentes do PT, apareciam fotos e documentos que os desmentiam. Lula nunca foi atingido; Lula não sabia de nada, Lula era inatacável. O tesoureiro do PT foi demitido e cassados os seus direitos políticos. José Dirceu, cujo gabinete ficava ao lado do de Lula, foi demitido e cassados os seus direitos políticos. Lula não sabia de nada e falava de uma campanha contra o filho eleito do povo. José Genoíno, presidente do PT, foi demitido. Lula era inocente, apesar das dúvidas da imprensa e de manifestamente ser impossível que não soubesse de nada, se os personagens pertenciam ao núcleo duro do seu governo, se se encontrava com eles todos os dias, se lhes telefonava a qualquer hora do dia e da noite, se trabalhavam ao seu lado. Lula nunca soube de nada. O povo tinha mais com que se preocupar. Às vezes, o povo pode querer que as coisas sejam assim mesmo.
[FJV]

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