terça-feira, 1 de março de 2011

«Depois da farsa»



«Sócrates vai a Berlim na quarta-feira. Para receber elogios de Merkel? Seja. Mas este filme não altera o guião original: uma economia em recessão, uma despesa sem controlo e juros que nos esmagam sem piedade.
Perante este cenário, que podemos esperar a médio prazo? Não, obviamente, o que Sócrates espera: que o fundo europeu possa comprar dívida; ou, então, que venha um empréstimo sem o FMI. No horizonte, estão dois cenários funestos.
O primeiro cenário é, vergados pelos juros e com o BCE a fechar a torneira, termos um pacote semelhante ao da Irlanda e da Grécia, o que significará que o governo falhou. O segundo é a sra. Merkel dar ouvidos aos economistas alemães e entender, não sem alguma razão, que não vale a pena aplicar a terapia grega e irlandesa a Portugal quando essa terapia não estanca contágios (antes pelo contrário) e destrói a capacidade de recuperação económica dos resgatados. A solução será reestruturar a dívida e aceitar a falência: do governo e do país.
Na quarta, Merkel consola Sócrates. Uma caridosa farsa. Seria mais útil que se fosse despedindo dele.

[JPC, no Correio da Manhã]

Sem comentários: