sexta-feira, 25 de março de 2011

Sinal dos tempos

A demissão do primeiro-ministro levou a quase totalidade dos comentadores ao rubro – mesmo aqueles que, ainda não há muito tempo, o cobriam de elogios e dos mais improváveis sucessos.
Pelo que se vai lendo e ouvindo, dá ideia de que todos os problemas de Portugal se resolvem, num ápice, com a simples e imediata remoção do eng. Sócrates da cena política nacional. Sem ele, o país conseguiria finalmente ultrapassar as suas debilidades crónicas, sem a sua insuportável arrogância os partidos chegariam serenamente a um amplo e necessário consenso do qual resultaria obviamente uma espécie de governo de salvação nacional, onde PS, PSD, CDS e até o próprio PCP se entenderiam sobre o futuro da Pátria e as medidas necessárias para assegurar a sua ressurreição.
Como seria de esperar, este radioso cenário conta com o apoio de inúmeros patriotas, dispostos a redimir o país de seis anos de pura propaganda e de total desgoverno. Infelizmente, esta soma de boas intenções tropeça num pequeno problema que dá pelo nome de realidade.
Antes de mais, porque o eng. Sócrates já deixou claro que não está na feliz disposição de se deixar remover. E o PS, a quem caberia o heróico papel de o substituir por um qualquer Luís Amado, prepara-se para o reeleger, com o entusiasmo possível, como secretário-geral, no próximo Congresso do partido. Mas principalmente, porque até agora, não se vislumbra por parte da oposição uma alternativa credível, capaz de inverter o caminho para o abismo que se nos abriu pela frente. Pelo contrário, as declarações da srª Merkel, ontem em Bruxelas, não deixaram margem para dúvidas: para além dos elogios ao eng. Sócrates, a chancelar alemã deixou claro que seja qual for o governo em funções, Portugal vai ter de cumprir os compromissos que assumiu com Bruxelas. E o dr. Passos Coelho que, até agora, se tem refugiado no chavão das reformas estruturais, mais tarde ou mais cedo, vai ter de apresentar medidas que poderão ser ainda mais duras do que aquelas que rejeitou, esta semana, na Assembleia da República.
Nem de propósito, o dia de ontem amanheceu com a hipótese de o PSD poder aumentar o IVA para 24 e 25 por cento, depois de, no Orçamento, ter impedido que o Governo o aumentasse para 23 por cento. Sinal dos tempos! [CCS]
[Publicado no Correio da Manhã]

1 comentário:

CHE disse...

Para quando alguém da verdadeira ESQUERDA neste programa.
É sempre mais do mesmo.
Do centro para a direita....e a ESQUERDA....não interessa?????