segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Estado Social

Esta é uma interessante questão: saber exactamente quando o primeiro-ministro descobriu a existência do Estado Social. Esta manhã, leio no Diário Económico as declarações de José Sócrates: este orçamento «protege o emprego e protege o modelo social». Não podia ser mais delirante. A questão não é nova e tem a ver com a interessante definição de «esquerda» praticada pelo primeiro-ministro – várias vezes, ao longo da sua primeira legislatura, e temendo que os deuses do socialismo se voltassem contra ele, José Sócrates apareceu em público defendendo que as suas medidas eram «de esquerda». Passaram a ser «de esquerda» o código de trabalho, o computador Magalhães, o défice, o casamento de pessoas do mesmo sexo, a regionalização, o Instituto do Azeite, o Observatório das Aves, tudo o que o governo decidisse ser «de esquerda». Era «de esquerda» aquilo que o o primeiro-ministro entendia ser «de esquerda». Com o Estado Social passa-se exactamente a mesma coisa: o primeiro-ministro, pra ser «de esquerda», elegeu a defesa do Estado Social como uma das suas prioridades; é uma questão de princípio. Se toma medidas contrárias ao Estado Social, isso não tem qualquer relevância – trata-se de defender o Estado Social, mesmo se estas medidas contrariam as anteriores, tomadas em defesa e promoção do Estado Social. Trata-se de defender uma linguagem, esperando que ela substitua a realidade propriamente dita.
[FJV]

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