segunda-feira, 30 de maio de 2011

«O alvo errado»

«Por razões inexplicáveis, o PSD, que tinha ganho um novo alento depois do debate entre o engº Sócrates e o dr. Passos Coelho, decidiu fazer do CDS o seu adversário principal. Desde que começou a campanha, não há um dia que não se faça ouvir a voz de um qualquer notável social-democrata a zurzir contra a irrelevância do voto no seu hipotético parceiro de coligação. Não é que não seja legítimo apelar ao "voto útil" para promover o resultado eleitoral do PSD. Como é legítimo que o CDS queira apresentar um caminho próprio que não faça do partido a eterna "muleta" do PSD. O que se estranha, sim, é que um partido que apela à maioria absoluta considere que o seu potencial de crescimento se encontra à sua direita, no CDS, e não à sua esquerda, no PS, onde os seis anos de governação do engº Sócrates deviam garantir, à partida, um mar de eleitorado seduzido pela mudança. Assim, a ideia que passa é que o PSD desistiu de conquistar votos ao PS, preferindo antes acenar aos eleitores do CDS, numa clara demonstração de fraqueza, que beneficia, obviamente, o engº Sócrates.
Quanto mais o dr. Passos Coelho insiste em que o CDS tem de clarificar a sua posição em relação ao PS, mais à vontade o PS se sente para acusar o "radicalismo" de uma coligação que, ainda por cima, não se entende. Infelizmente, este apelo ao voto útil tem sido acompanhado, aqui e ali, por ataques de carácter ao líder do CDS. Quando o autarca do PSD das Caldas da Rainha se apresenta, em campanha, com a velha e batida história dos submarinos ou dispara contra o caso dos sobreiros, ainda houve, com alguma benevolência, quem registasse que o dr. Passos Coelho lhe tinha tirado o microfone. Mas quando, horas depois, o dr. Menezes, distinto apoiante da actual direcção do PSD, volta ao tema para insinuar que o dr. Portas tem as "mãos sujas" com negócios pouco claros, o caso muda ligeiramente de figura.
É esta obsessão com o CDS que levou ontem o dr. Passos Coelho a admitir um novo referendo sobre o aborto para entrar no eleitorado conservador. Como se viu pela sucessão de desmentidos e interpretações, não só não ganhou nada com a habilidade como conseguiu dar de mão beijada um trunfo inexplicável ao engº Sócrates. Convém que, nesta recta final da campanha, o PSD, natural vencedor das próximas eleições, corrija o tiro e defina melhor a sua ordem de adversários. Mas, pelo que se vai vendo, o PSD parece estar a fazer tudo o que pode para conseguir perder estas eleições.»

[CCS, no Correio da Manhã]

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