A Torto e a Direito
Blog do programa «A Torto e a Direito». TVI 24
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Ponto final
segunda-feira, 11 de julho de 2011
«Pedras duras»
Infelizmente, o governo que se indigna com a Moody’s é o mesmo que parece disposto a dar-lhe razão. Não apenas ao carregar nos impostos como todos os governos anteriores – o subsídio de Natal, o IVA, o IMI, os automóveis, etc. Mas ao chutar para a estratosfera as medidas difíceis que aliviariam o assalto corrente aos contribuintes. A privatização da RTP é apenas um caso (adiado). A redução do número de autarquias é outro caso (adiado). Quando atinge pedra dura, o governo pára de cavar. Até quando?
Dois meses, não mais. Se, depois do Verão, o Estado não entrar em dieta profunda, o melhor é atirar a toalha. Não vale a pena pedir sacrifícios quando no barco só existe um otário a remar.»
[JPC, no Correio da Manhã]
terça-feira, 5 de julho de 2011
Boa sorte, Francisco!
E pronto: o A Torto e a Direito já forneceu um Secretário de Estado ao novo Governo. Francisco José Viegas, um dos fundadores do programa, despediu-se na última edição. Tudo com o alto patrocínio do Menino Jesus da Cartolinha. Para ver, aqui. [ E boa sorte, Francisco! ]
domingo, 19 de junho de 2011
Sugestões
A morte é algo de, naturalmente, fascinante. Embora muitas vezes ocultada e afastada das conversas quotidianas, é quase sempre um tema que nos permite reflexões consistentes.
Michel Schneider no seu livro "Mortes Imaginárias" recria (parte realidade, parte ficção) as mortes de 36 autores que vão desde Pascal, Kant e Flaubert a Freud, Nabokov e Capote. De uma enorme erudição e criatividade, recomendam-se estas historinhas cheias de vida.
Pelo seu lado, Diego Palacios Cerezales com o seu livro "Protesto Popular e Ordem Pública no século XIX e XX" conta-nos, com muito pormenor e conhecimentos, a história do uso da força pelo Estado ao controlar e reprimir as manifestações públicas colectivas neste largo período.
Um tema cheio de actualidade e uma leitura que, igualmente, se recomenda.
[FTM]
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Sugestões
[JPC, no Correio da Manhã]
«O alvo errado»
Quanto mais o dr. Passos Coelho insiste em que o CDS tem de clarificar a sua posição em relação ao PS, mais à vontade o PS se sente para acusar o "radicalismo" de uma coligação que, ainda por cima, não se entende. Infelizmente, este apelo ao voto útil tem sido acompanhado, aqui e ali, por ataques de carácter ao líder do CDS. Quando o autarca do PSD das Caldas da Rainha se apresenta, em campanha, com a velha e batida história dos submarinos ou dispara contra o caso dos sobreiros, ainda houve, com alguma benevolência, quem registasse que o dr. Passos Coelho lhe tinha tirado o microfone. Mas quando, horas depois, o dr. Menezes, distinto apoiante da actual direcção do PSD, volta ao tema para insinuar que o dr. Portas tem as "mãos sujas" com negócios pouco claros, o caso muda ligeiramente de figura.
É esta obsessão com o CDS que levou ontem o dr. Passos Coelho a admitir um novo referendo sobre o aborto para entrar no eleitorado conservador. Como se viu pela sucessão de desmentidos e interpretações, não só não ganhou nada com a habilidade como conseguiu dar de mão beijada um trunfo inexplicável ao engº Sócrates. Convém que, nesta recta final da campanha, o PSD, natural vencedor das próximas eleições, corrija o tiro e defina melhor a sua ordem de adversários. Mas, pelo que se vai vendo, o PSD parece estar a fazer tudo o que pode para conseguir perder estas eleições.»
[CCS, no Correio da Manhã]
domingo, 29 de maio de 2011
Sugestões
Ler um bom livro e ouvir boa música são dois prazeres que nos dão sentido à vida. No caso da "História da Vida Privada em Portugal" tem um livro em que pode ler mais de uma dúzia de textos/ensaios, de diversos autores, com temas como "A Casa", A Família", A Festa", " A Alimentação", "A Criança" ou "A Sexualidade". Claro que a vida privada naqueles tempos, era outra coisa.
No caso do disco "You taste like a song" do Júlio Resende Trio pode ouvir excelentes composições de um trio de jazz cheio de ritmo e criatividade. E saboroso, claro.
Aconselho, ainda, um blog com músicas boas. Pode ser que goste de algumas...
http://1musicaparacadadia.blogspot.com/
domingo, 15 de maio de 2011
Sugestões
quinta-feira, 12 de maio de 2011
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Sugestões
[JPC, no Correio da Manhã]
sábado, 30 de abril de 2011
Sugestões
Segundo, nos informa ainda a Cotovia, editora desta sua obra em português, durante a 1.ª Guerra Mundial trabalhou em Zurique nos arquivos públicos, tendo começado a desenvolver distúrbios mentais e sendo internado numa clínica psiquiátrica em Hersau, "onde continuou a escrever até à morte".
Este livrinho debruça-se sobre diversas pinturas, umas mais conhecidas que outras, que Walser, ora descreve, ora fantasia, imaginando diálogos entre os personagens ou meramente divaga. O livro reproduz com muito razoável qualidade as obras, o que nos permite acompanhá-lo sem esforço. Aconselhável para ir lendo historinha a historinha, uma, duas por dia ao deitar...
[FTM]
segunda-feira, 25 de abril de 2011
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O nosso património ambiental é um valor seguro que importa preservar neste tempo de crise.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
«Mudar de Vida»
domingo, 27 de março de 2011
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sexta-feira, 25 de março de 2011
O país de Sócrates
[Publicado no Correio da Manhã]
Sinal dos tempos
Pelo que se vai lendo e ouvindo, dá ideia de que todos os problemas de Portugal se resolvem, num ápice, com a simples e imediata remoção do eng. Sócrates da cena política nacional. Sem ele, o país conseguiria finalmente ultrapassar as suas debilidades crónicas, sem a sua insuportável arrogância os partidos chegariam serenamente a um amplo e necessário consenso do qual resultaria obviamente uma espécie de governo de salvação nacional, onde PS, PSD, CDS e até o próprio PCP se entenderiam sobre o futuro da Pátria e as medidas necessárias para assegurar a sua ressurreição.
Como seria de esperar, este radioso cenário conta com o apoio de inúmeros patriotas, dispostos a redimir o país de seis anos de pura propaganda e de total desgoverno. Infelizmente, esta soma de boas intenções tropeça num pequeno problema que dá pelo nome de realidade.
Antes de mais, porque o eng. Sócrates já deixou claro que não está na feliz disposição de se deixar remover. E o PS, a quem caberia o heróico papel de o substituir por um qualquer Luís Amado, prepara-se para o reeleger, com o entusiasmo possível, como secretário-geral, no próximo Congresso do partido. Mas principalmente, porque até agora, não se vislumbra por parte da oposição uma alternativa credível, capaz de inverter o caminho para o abismo que se nos abriu pela frente. Pelo contrário, as declarações da srª Merkel, ontem em Bruxelas, não deixaram margem para dúvidas: para além dos elogios ao eng. Sócrates, a chancelar alemã deixou claro que seja qual for o governo em funções, Portugal vai ter de cumprir os compromissos que assumiu com Bruxelas. E o dr. Passos Coelho que, até agora, se tem refugiado no chavão das reformas estruturais, mais tarde ou mais cedo, vai ter de apresentar medidas que poderão ser ainda mais duras do que aquelas que rejeitou, esta semana, na Assembleia da República.
Nem de propósito, o dia de ontem amanheceu com a hipótese de o PSD poder aumentar o IVA para 24 e 25 por cento, depois de, no Orçamento, ter impedido que o Governo o aumentasse para 23 por cento. Sinal dos tempos! [CCS]
[Publicado no Correio da Manhã]
quarta-feira, 23 de março de 2011
Artur Agostinho (1920 - 2011)
Artur Agostinho era um castiço. Ou, como o próprio dizia, «um gajo porreiro». Entrevistei-o há dois anos, para a GQ. Reproduzo aqui a entrevista, para ler e sorrir, sobretudo nestes tempos politicamente sombrios. O Artur Agostinho conheceu-os bem e nunca os esqueceu.
Nasceu no dia de Natal. Como é disputar atenções com o Menino Jesus?
(risos) Para mim nunca houve problema. Houve sempre uma grande identidade entre mim e o Menino Jesus, fomos sempre muito cúmplices.
E as prendas? Nunca houve a tentação de juntar as duas prendas numa só?
Os meus pais tiveram sempre o cuidado de dar duas prendas em vez de uma.
Nasceu em Lisboa, em 1920. Como era uma infância em Campolide nessa altura?
Era uma vivência muito familiar, um tempo onde os vizinhos se conheciam todos uns aos outros. Podíamos deixar a porta quase aberta porque não havia problemas. Portanto, tive uma infância simpática num bairro que era característico. Cada bairro era um universo, com a sua mística, os seus clubes desportivos e recreativos, os seus grupos de amigos, era muito interessante.
E nessa idade, sonhava ser polícia ou bombeiro na idade adulta?
Comecei a ter o sonho de locutor de rádio com 9 ou 10 anos. Lembro-me quando o meu pai trouxe para casa o primeiro rádio. Foi uma festa! E eu lá ia ouvindo: a Emissora Nacional, o Rádio Clube Português e mais tarde a Rádio Renascença. Fundamentalmente ouvia as emissões infantis, do Oliveira Cosme ou do Henrique Samorano. Depois comecei a ouvir as emissões particulares de Lisboa: A Voz de Lisboa, a Rádio Graça, onde apareceu a Milú. Ouvia no Clube Português um programa humorístico que deve ter sido uns dos pioneiros do bom humor em Portugal, chamava-se «Orquestra Aldrabofona», composta por gente com muita graça. Contavam histórias, tocavam músicas e cantava. Uma emissão curiosa.
Começava então a imitar o que ouvia na rádio?
Comecei a fixar alguns dos locutores que foram para mim grandes referências. Fixei-me muito no Fernando Pessa, uma referência grande da Emissora Nacional antes de ter ido para a BBC. Gostava de ouvir o Jorge Alves - outro estilo, mais animado e de variedades. E depois havia outros, como o Bessa Leal, a Laura Rodrigues, a Maria Resende ou o João da Câmara. Eu ouvia aquelas pessoas e sonhava vir a ser como elas. Foi assim que começou.
E começou mesmo pela rádio.
Sim, o que foi também uma casualidade.
Em rádios amadoras?
Nasceu no bairro de Campolide a minha possibilidade de realizar o meu sonho de fazer rádio. Eu era sócio de um clube recreativo de Lisboa, «Campolide Atlético Clube», onde aliás fiz pela 1ª vez teatro amador.
Ainda se lembra da peça?
Não me lembro, sei que tinha mais ou menos 16 anos quando me estreei como actor. Nesses clubes, ao fim-de-semana, havia bailes; contratavam um conjunto musical e quando não havia dinheiro, os bailes eram feitos com discos. E nessa altura, sempre que se tirava um disco e se punha outro, eu ia dizendo umas “larachas” para entreter e ganhei uma certa popularidade entre aquela população de 150 pessoas. Até que um dia um dos amigos que ia ao clube veio-me dizer: “Sabes, agora sou locutor numa estação que estava na Graça e que mudou para Campolide, a Rádio Luso, e eles estão à procura de locutores e tu tens muito jeito, podias experimentar”. Eu já me tinha desinibido artisticamente e disse que iria lá e assim comecei por fazer locução 2 vezes por semana. A certa altura queriam que fosse todos os dias mas era estudante e não podia. Mas a história da rádio nessa altura é muito interessante porque eu estou a falar de 1938, 1939, ou seja, as vésperas da Segunda Guerra. E os alemães e os ingleses já na altura procuravam fazer a sua propaganda através da rádio. Através da música, as duas potências davam uma grande ajuda às estações amadoras que eram pobres, não tinham receitas, tinham os seus grupos de associados. Então ingleses ou alemães cediam discos dos seus arquivos. A rádio Luso, que estava com dificuldades financeiras, entrou no jogo dos alemães e eu, que era todo anglófilo, disse que não trabalhava mais na estação e passei para uma que dava auxílio aos ingleses, o Clube Radiofónico de Portugal. Depois tive um problema com uma pessoa de lá e fui para outra que também estava a ajudar os ingleses, a rádio Peninsular, e foi assim que a minha carreira começou, mas sempre como amador. Até que um dia fui contactado pelo director do Rádio Clube Português que me convidou para ser produtor de um programa semanal na rádio que tinha os seus estúdios na Parede e eu aceitei. Fui fazer um programa de 15 minutos semanal que era o «Músicas e Palavras». Passado algum tempo convidou-me para outro programa e fiz um excelente programa semanal que passava aos domingos, chamava-se «Cinema Sonoro», dedicado ao cinema, arte pela qual também me tinha apaixonado. Entretanto, começou a aparecer a minha vida cinematográfica com o «Capas Negras». Assim, comecei a fazer muitos programas como colaborador. Passado algum tempo o Victor Santos convidou-me para passar a fazer parte do quadro de locutores do Rádio Clube Português. Era então a minha profissionalização como locutor. Fui fazer parte de uma equipa de locutores constituída pelo Jaime Silva Pinto e pela Natália Correia, veja lá.
Deu-se bem com ela?
Muito bem. Viajávamos juntos depois da emissão no comboio. Não tínhamos automóvel. Saíamos no Cais do Sodré, depois apanhávamos um táxi, eu deixava-a na Rua da Artilharia e eu seguia para Campolide. Foi um tempo engraçado.
Chegou a conhecer o António Ferro, o chefe da propaganda salazarista?
Conheci.
E qual a impressão que tem dele?
Tinha uma excelente impressão, sem fazer análise do ponto de vista político. Mas como intelectual achei-o um homem muito interessante. Ele tinha um programa na cabeça que era tornar a Emissora Nacional popular, chegar mais ao público. Naquele tempo, entre nós, a Emissora Nacional era muito formal, tudo no estilo engravatado. O António Ferro quis transformar as emissões e fazer emissões sem gravata.
E como era conviver com a censura do regime?
A censura aos locutores passava um bocado ao lado. Porque os locutores, ao contrário de hoje, só liam as notícias, não éramos nós que fabricávamos as notícias. Portanto, as notícias eram feitas no departamento de noticiários da Emissora Nacional. Esses noticiários eram feitos com base nas agências de notícias, eles é que preparavam, corrigiam e depois havia um sector que censurava internamente, ou seja, havia duas censuras, uma da agência de notícias e outra do regime.
E o dr. Salazar, chegou a conhecê-lo?
Cumprimentei-o uma vez numa recepção que ele fez aos funcionários públicos. Pareceu-me um homem muito distante. Aliás, só me lembro de uma pessoa que me tivesse impressionado com o olhar como ele me impressionou. Um olhar gélido, frio: o Nasser, do Egipto. Isto aconteceu quando acompanhei a selecção nacional que foi jogar ao Egipto e o presidente Nasser veio receber-nos.
No entanto, acabou não apenas por fazer rádio mas quase tudo o que mexe: cinema, televisão, publicidade, jornalismo. Como é possível tocar todos estes instrumentos?
É uma questão de método.
Disciplina?
Sempre fui desarrumado mas disciplinado, ou seja, sou arrumado na minha desarrumação.
E as fãs? Numa altura em que não havia televisão, as fãs deviam apaixonar-se pela voz.
Sim, havia aquele encantamento do mistério, quem é esta voz? Isso permitia situações engraçadas. Por exemplo, apanhar o eléctrico e subitamente ouvir duas pessoas a falarem sobre mim, sem saberem que eu estava ao lado.
Nunca se meteu na conversa?
Uma vez ia em São Bento no eléctrico e vinha a ouvir uma conversa entre dois senhores. Um dizia muito bem de mim. O outro dizia mal e acrescentava que já tinha almoçado comigo muitas vezes e que me conhecia perfeitamente. Então, quando cheguei ao destino, toquei a campainha para sair e disse-lhes, ao descer: “Meus senhores, muito boa tarde, eu sou o Artur Agostinho”. (risos)
E nunca teve mulheres que queriam saber quem era a voz?
Havia muito. Escreviam muito, pediam fotografias autografadas.
E enviava?
Enviei muitas.
Chegou a ter alguma a persegui-lo?
(risos) Vale a pena abrir esse capítulo?
Esse é o capítulo interessante!
Há mulheres que se sentem apaixonadas pelos actores, mas no fundo não o estão. Estão apaixonadas pela imagem que criaram deles, pela fantasia.
Chegou-lhe a acontecer isso?
Claro, recebia muitas cartas de amor.
E nunca conheceu nenhuma dessas fãs?
Não. Sempre fui defensor de manter esse mistério.
Olhando para trás, qual foi a sua maior desilusão ou mágoa?
A minha maior desilusão foi na altura do 25 de Abril quando as pessoas tentaram colar-me ao regime político porque eu trabalhava na Emissora Nacional. A mágoa foi a incompreensão das pessoas, umas por ingenuidade, outras por influência de terceiros. Enfim, a Amália costumava-me dizer muitas vezes, entre as conversas nos intervalos dos espectáculos: “Sabes, houve muita gente que me ajudou a subir na minha carreira artística. Mas quando cheguei ao topo, essas mesmas pessoas começaram a pensar na melhor forma de me deitarem abaixo.” E isto é completamente verdade. Portanto, com a revolução conotaram-me com a PIDE. Como não conseguiram transformar essa mentira em verdade, aproveitaram mais tarde para me prenderem de madrugada com a acusação de que eu fazia parte de uma associação de malfeitores. Depois ainda houve outras histórias, uma das quais envolvia a minha pessoa, vestida de padre num carro funerário, com um caixão cheio de armas... (risos). Surreal! Então fizeram uma reunião plenária no “Record”, houve uma moção de confiança, apareceu um sujeito a contar essa história do carro funerário e eu passei a traidor, etc., etc. Foi assim que acabou a minha direcção de 12 anos no “Record”.
Sabe quem foram os cabecilhas dessas infâmias?
Sei. Mas não posso dizer os nomes. Decidi não dar qualquer importância a essas pessoas. Muitos deles vieram mais tarde pedir-me perdão. Disse-lhes que estavam perdoados mas que não esquecia.
Voltando às boas memórias, como era Amália Rodrigues?
Uma grande artista, uma excelente companheira. Com muito bom humor, tinha muita graça, contava histórias maravilhosas. Mas também era uma mulher insegura, muito insegura, com medo. Medo da morte, das doenças, de deixar de agradar às pessoas, de cantar mal, medos que ela vencia de uma maneira espectacular quando começava a actuar.
E Portugal no Mundial de 1966: memórias?
Estávamos na década de ouro do futebol português. Tive a felicidade de viver uma época realmente extraordinária do nosso futebol. O primeiro indício de excelência foi numa excursão do Benfica ao Brasil. Logo a seguir o Benfica entrou a ganhar duas Taças dos Campeões Europeus no começo dos anos 60. Em 1964, o Sporting ganha a Taça das Taças, outro feito brilhante. E em 66 a Selecção foi ao Mundial. Não se pode desejar melhor.
E em termos comparativos: Eusébio ou Cristiano Ronaldo?
Não pode haver comparações nenhumas. Recuso-me a comparar jogadores de épocas diferentes, com futebol e estratégias diferentes, com condições de terreno diferentes, com bolas diferentes, com tratamentos médicos aos jogadores diferentes, com alimentação e vida social diferentes. Tudo isso pesa e não se pode comparar.
Então comparemos jogadores da mesma época: Pelé ou Eusébio?
Para os portugueses, Eusébio. (risos) Mas, realmente, Eusébio era mais completo. O Pelé foi um extraordinário mágico da bola, com uma capacidade de oportunidade e de esforço, ele “cheirava” o sítio certo onde estar. O Eusébio era mais genuíno, mais humilde. Mas ambos eram grandes jogadores.
E hoje? Está descontente com a Selecção Nacional do prof. Queirós?
Estou triste porque temos jogadores com muito talento, mas a equipa não funciona. Uma equipa de futebol não é um grupo de talentos, é uma equipa, um colectivo. O prof. Carlos Queirós conhece e sabe muito de futebol, mas parece-me que tem algumas incertezas, algumas dúvidas quando está sentado no banco.
Finalmente, vamos ao cinema. Que impacto teve o facto da voz da rádio ter aparecido nas telas? Ou seja, estou a falar, novamente, de mulheres.
Foi um impacto altamente positivo. Fiz «Capas Negras» e, como sabe, era um galã estudante, malandreco, pouco sério, interessado em sacar umas coisas, uns dinheiros para a sua República. Depois, no «Leão da Estrela», era um galã de outro tipo, um bocadinho mais sofisticado. Mas penso, apesar de tudo, que as pessoas nunca me viram como galã. Antes como um animador, um homem divertido.
A Laura Alves, sua parceira sentimental no «Leão da Estrela», era uma mulher muito bonita.
Muito bonita. Era uma grande actriz, uma grande mulher, uma grande companheira e as pessoas admiravam-na muito.
E o Artur Agostinho era uma pessoa namoradeira ou nem por isso?
Não, nem por isso. Eu era um obcecado pela profissão, um fanático do trabalho. Tive a sorte de poder trabalhar naquilo que gosto e isso nem sempre acontece. É um milagre e fiz as coisas com paixão, de tal forma que para mim não havia horários de trabalho, nem férias, isso não significava nada. Era capaz de pedir para faltar 2 ou 3 dias para ir a qualquer lado divertir-me, mas também se fosse necessário trabalhar 48 horas seguidas, lá estava eu.
Ainda hoje vê cinema português?
Tenho visto muito menos. Mas ainda vejo.
Manoel de Oliveira?
Vejo por uma questão de obrigação e respeito. Um homem que chega aos 100 anos a fazer cinema, enfim, posso não concordar com algumas fórmulas cinematográficas que ele utiliza, menos dinâmicas, menos ritmadas, mas tenho um grande respeito e admiração por ele.
E se ele o convidasse para um filme?
Com certeza que aceitava. Era uma honra para mim.
Como é que vê o Portugal de hoje?
Com uma grande preocupação quanto ao futuro desta geração e das próximas. Portugal realmente vai ter uma vida complicada. Eu vivi no Brasil seis anos, a gente sabia que era uma bagunça, mas é também um país que tem riquezas naturais. O que é que Portugal tem? A riqueza que poderá ter está nas suas pessoas e na formação delas. E a formação que eu vejo da juventude, dos estudantes, não é uma formação capaz de lhes dar força, condições e ferramentas para o futuro. Receio muito por esta geração. Eu, que sou um optimista, vejo tudo isto com muita preocupação. E aqueles que chegaram nesta altura aos 30 e tal, 40 anos e que deixam de ter a possibilidade de trabalhar, vão fazer o quê? Isto numa época em que a primeira coisa que perguntam não é o que o outro sabe fazer, mas quantos anos tem. Um disparate, claro, porque a idade é sempre relativa: eu conheço pessoas de 30 anos que são velhas e conheço homens, como o nosso realizador Manoel de Oliveira, que é jovem na cabeça.
E o Artur, que idade tem?
Tenho 87 anos.
Eu não me referia a essa idade. Referia-me à outra.
Talvez 45 ou 50 anos. (risos)
Como é a sua vida hoje?
Muito simples e fácil. Ainda faço coisas para a televisão, mas tento adequar o papel. Há 8-10 anos tive de meter a gravata diariamente durante quase dois anos na «Ana e os Sete», rodar todos os dias, incluindo aos sábados. Ia para o estúdio às 8h, saía às 20h e levava o papel para estudar para a manhã seguinte. Hoje já não posso fazer isso, é muito violento. Além disso, escrevo para o “Record”, distraio-me um bocado na internet, faço mais companhia à família do que fazia, dou as minhas voltas, vou ver um ou outro espectáculo, vou almoçar fora com a minha mulher. E depois tenho a escrita, que ajuda muito a preencher o tempo.
E como gostaria de ser lembrado?
Como um gajo porreiro! (risos)
[JPC, na GQ, Janeiro de 2009]
domingo, 20 de março de 2011
Sugestões
1. O disco de Luisa Sobral "The Cherry on My Cake" é uma simpática alegria e companhia. Uma voz bonita e divertida em canções muito variadas, algumas em português, a maior parte em inglês. Esteve lá fora, estudou e vem cheia de coisas boas. Não hesite: compre e ouça !
[FTM]
segunda-feira, 14 de março de 2011
domingo, 13 de março de 2011
Obama v. Obama ?
Ora aí está
[FJV]
Inevitabilidade
[FJV]
sábado, 12 de março de 2011
Sugestões
Eu sei que é desagradável a actual designação do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, mas esqueça esse pormenor porque vale mesmo a pena ir ver as 3 exposições que estão por lá. A "Mappamundi" é uma festa para os olhos e para a mente, com inúmeros desafios (feitos por cerca de 50 artistas) às nossas ideias do que é um mapa. A "Tinta nos Nervos" é uma viagem sobre a banda desenhada portuguesa com representação de 41 artistas. Por último, "Observadores – Revelações, Trânsitos e Distâncias " é uma exposição que parte da colecção do museu para evidenciar "a relação triangular entre a obra de arte, o artista e o espectador". Para além do prazer que pode retirar da visita a qualquer das exposições, têm todas outra vantagem: são gratuitas. Não hesite: vá !
quarta-feira, 9 de março de 2011
«Mamãe eu quero»
terça-feira, 1 de março de 2011
Moacyr Scliar (1933 - 2011)
«De Moacyr (1933-2011), os primeiros livros que li foram O Exército de um Homem Só e O Centauro no Jardim, momentos centrais de uma obra de interrogações e perplexidades. A Mulher Que Escreveu a Bíblia é um desses livros, tal como A Majestade do Xingu, uma história da emigração de judeus russos para o Brasil. O seu mundo era esse: o de Porto Alegre, a sua cidade transformada em catalisadora da sua memória judaica, da gente humilde que fugira da velha Rússia ou do comunismo. Lembro a sua casa, cheia de livros; escrevia em todo o lado, a toda a hora, sempre com um livro 'para terminar'. Ficámos amigos por causa de A Condição Judaica, um pequeno livro que mostrava o Moacyr simples, com o seu gosto pela beleza ética do judaísmo. Um adeus para Moacyr não basta.»
[FJV, no Correio da Manhã]
«Depois da farsa»
«Sócrates vai a Berlim na quarta-feira. Para receber elogios de Merkel? Seja. Mas este filme não altera o guião original: uma economia em recessão, uma despesa sem controlo e juros que nos esmagam sem piedade.
Perante este cenário, que podemos esperar a médio prazo? Não, obviamente, o que Sócrates espera: que o fundo europeu possa comprar dívida; ou, então, que venha um empréstimo sem o FMI. No horizonte, estão dois cenários funestos.
O primeiro cenário é, vergados pelos juros e com o BCE a fechar a torneira, termos um pacote semelhante ao da Irlanda e da Grécia, o que significará que o governo falhou. O segundo é a sra. Merkel dar ouvidos aos economistas alemães e entender, não sem alguma razão, que não vale a pena aplicar a terapia grega e irlandesa a Portugal quando essa terapia não estanca contágios (antes pelo contrário) e destrói a capacidade de recuperação económica dos resgatados. A solução será reestruturar a dívida e aceitar a falência: do governo e do país.
Na quarta, Merkel consola Sócrates. Uma caridosa farsa. Seria mais útil que se fosse despedindo dele.
[JPC, no Correio da Manhã]
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
«Elogio aos gagos»
[JPC, na Folha]
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Gérard Castello-Lopes, 1925-2011
«Recordo as imagens de ‘Perto da Vista’, livro que a Imprensa Nacional publicou em 1984, e a surpresa diante das fotografias de Gérard Castello-Lopes (1925-2011). Vi-as depois, aqui e ali: um prodígio de composição, de luz, de elegância.
A sua morte (no sábado, em Paris) foi tão longínqua como o seu desprendimento em relação à fotografia, em que se identificava o traço de ligação a Cartier-Bresson. Gérard Castello--Lopes era emblema de uma geração ligada ao cinema, à perplexidade e à melancolia. Os seus textos sobre fotografia, publicados em ‘Reflexões sobre a Fotografia’ (publicado pela Assírio & Alvim há sete anos), dão parte desse cruzamento. Nenhum dos seus retratos deixa um rasto de indiferença; pressente-se um rumor, um gesto, um mundo à espera.»
Sugestões
[JPC, na Folha]
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Fumar, urinar, mendigar
«A semana foi dominada pelo Egito. Mas existem sinais de fanatismo do outro lado do mundo. Falo de Nova York, que resolveu aprovar uma lei revolucionária sobre o fumo.
Segundo leio, o conselho municipal da cidade, na impossibilidade de exterminar fisicamente os fumantes (por enquanto), prepara-se para afastá-los da paisagem.
Fumar em parques, praias e outras zonas pedestres (como Times Square) será virtualmente impossível. E existem multas para os prevaricadores: US$ 100, ou seja, R$ 166, exactamente o mesmo para quem urina em público ou pede esmola.»
[JPC, na Folha.com]
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Patriotismos
Do outro lado da barricada encontra-se, naturalmente, a direita, que, na feliz expressão do ministro Santos Silva, 'saliva' perante a chegada do FMI para, com o seu beneplácito, poder dar asas à sua tenebrosa política contra o Estado Social que o próprio engº Sócrates se tem encarregado de desmantelar. Escusado será dizer que esta radiosa visão das coisas, onde os ‘bons’ combatem patrioticamente os ‘maus’, não resiste à mais elementar análise. Porque o que a esquerda parece não perceber é que, com ou sem FMI, o país vai ter mesmo de mudar de vida. É a vida.»
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Novo ano, nova hora
Figuras tristes
[JPC, no Correio da Manhã]
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Pisas
[ FJV, no Correio da Manhã ]
Morto de fome
Verdade que, para sermos justos, a triste condição de Alegre é responsabilidade exclusiva da dieta a que o próprio se impôs. O dilema era conhecido: como ser apoiado pelo Bloco e pelo PS sem se comprometer com nenhuma das partes? Alegre acreditou que era possível compensar tamanha falta de alimento com ataques sucessivos ao cozinheiro Aníbal. Infelizmente, não lhe ocorreu a hipótese funesta deo cozinheiro pousar os tachos. E de Alegre ficar, sozinho e famélico, a olhar para um prato vazio. E agora?
Agora, Alegre confessa que está ‘farto de se ouvir’, um sintoma clássico de subnutrição que merece ser socorrido. Estamos no Natal. E o Presidente da República, a título caritativo, devia conceder ao bardo uma palavra, um aceno, um leve sorriso. Não enche a barriga, é certo. Mas também, nesta história das presidenciais, só mesmo Cavaco é que tem a papinha feita.»
[ JPC, no Correio da Manhã ]
domingo, 7 de novembro de 2010
Tribunais Populares
[Crónica no Correio da Manhã]
[JPC]
Um boneco
Confrontado com a greve geral, Alegre não apoia nem deixa de apoiar, embora compreenda ou talvez não. A posição de Alegre é interessante e explica-se pela camisa-de-forças em que o candidato se meteu, dramaticamente dividido entre o PS e o Bloco. Mas, pergunto, não haveria uma forma caridosa de poupar o bardo a estes vexames? Penso que sim. Bastaria que a candidatura de Alegre enviasse o próprio para casa e, em seu lugar, mandasse fazer um boneco de cera, em tamanho natural, que poderia ser levado para comícios, debates e outros contactos com o povo. A coisa animava a campanha e o boneco, quando confrontado com qualquer questão, poderia sempre responder um ‘não-concordo-nem-deixo-de-concordar’. Era só puxar o fio ou, melhor ainda, enfiar uma moeda. A campanha pagava-se a si mesma.
[Crónica no Correio da Manhã]
[JPC]
domingo, 31 de outubro de 2010
Sugestões. Uma memória de fim de século.
Acabo de ler a biografia de Francisco Sá Carneiro, de Miguel Pinheiro (Esfera dos Livros, 768 págs.). Na história dos partidos não-comunistas do pós-25 de Abril, Sá Carneiro foi o único dirigente capaz de criar um partido a partir do nada. Há duas leituras essenciais da sua figura — uma, largamente maioritária, privilegia o homem que quis acelerar o fim do regime revolucionário (com um projecto de revisão constitucional anti-socialista logo em 1978, a luta contra o eanismo e o papel do Conselho da Revolução, o confronto directo com a esquerda e com a imposição dos herdeiros da I República, de que Mário Soares era a figura principal); outra, absolutamente minoritária (e de que Miguel Real é um excelente intérprete), que o vê como um personagem trágico esmagado pelo provincianismo português, de esquerda e de direita.
O livro de Miguel Pinheiro acompanha a biografia política de Sá Carneiro dia a dia, semana a semana: o desenho desse personagem é cada vez mais nítido à medida que se aproxima da morte, cercado de conspirações (grande parte delas só existia na sua cabeça, o que não quer dizer que não fossem reais), de traidores, de submarinos, mas — sobretudo — de vencidos. Ele foi o primeiro político do mainstream a perceber as vantagens do radicalismo, a não contemporizar com as terceiras vias da época, a não ter pudor em fazer da política um jogo, a afrontar os lugares-comuns da via original para o socialismo (e a não sentir esse apelo romântico) e a nomear claramente os seus adversários. Num último golpe, tentou ainda uma aproximação com Mário Soares; Soares sempre esteve aberto a essa grande coligação que tomasse o poder, desde que garantisse o seu lugar à frente da História, mas Sá Carneiro percebera como ninguém que, mesmo nos meses de fogo e chumbo de 1975, primeiro, e 1976, depois, esse projecto seria a morte do PSD, um partido que nascera como herdeiro dos liberais do marcelismo, e que, na sua matriz, era europeu, conservador à maneira inglesa (o que era difícil num pais sem grande gosto pela liberdade e com um ódio radical contra «as elites»), anti-comunista — e cuja base eleitoral era essencialmente populista. Acontece que não podia ser de outra maneira. Foi durante o curto consulado de Sousa Franco à frente do PSD que nasceu a teoria das duas matrizes do partido: ele, Sousa Franco, era o representante do PSD «urbano», «socializante», de «esquerda»; Sá Carneiro tinha o apoio das «massas rurais» sobretudo do Norte e do interior, era «anti-socialista» e não compreendia as vantagens da contemporização. A definição era tão estreita que o próprio Sá Carneiro ficou surpreendido com os riscos que corria e com a natureza do seu «radicalismo» — que os dissidentes de Aveiro, comandados por Sá Borges e pelos herdeiros de Emídio Guerreiro, e os mentores das «Opções Inadiáveis», mais tarde, definiam como caudilhismo e prepotência. Entre esses críticos estavam Sá Borges e Emídio Guerreiro, é certo, mas também Artur Santos Silva ou Magalhães Mota, Mota Pinto ou Sérvulo Correia, e todos os que entendiam que era necessário ser maleável e contemporizador, mas não tinham entendido suficientemente que ou ficavam presos à estratégia de Mário Soares e Eanes para o novo regime (Soares criou Eanes como candidato fraco à presidência na esperança de o substituir mais tarde ou mais cedo — mas nunca teve ilusões sobre o seu moralismo militar e, no fundo, detestava a figura do general), ou afrontavam o PREC e os seus herdeiros. Quando Sá Carneiro tenta a última aproximação com Soares (ele seria primeiro-ministro e Soares o primeiro presidente civil — o que significaria a antecipação do fim do papel político dos militares), Soares não avaliou correctamente a situação (como não avaliaria mais tarde, na sua candidatura contra Freitas) e tomou os seus desejos por realidade, como de costume, confiando na ideia de que a sua genialidade lhe bastava. Enganou-se: daí a poucos meses, o PS ficaria reduzido a 27% e Sá Carneiro conquistaria a primeira maioria absoluta de direita com a AD. É dessa época, aliás, que datam alguns dos episódios mais edificantes do moralismo de esquerda, com críticas do próprio Soares à «relação extra-conjugal» de Sá Carneiro com Snu Abecassis, um assunto que o PS levaria inclusive para o parlamento e que Eanes explorou no seu confronto posterior com o primeiro-ministro que foi obrigado a nomear. Sá Carneiro alimentou sonhos demasiado altos — desde o de um país libertado do provincianismo até à ideia de ser presidente da República (os ataques baixos a Snu foram definitivos na decisão de abandonar o projecto presidencial). Viu, antes de outros (a geração do Semanário, por exemplo, que acabou por assumir uma parte da sua herança civilista e anti-socialista), o que seria esse país dirigido por militares, contemporizador, servil, pequenino. As suas características bipolares não poderiam ajudá-lo; as suas sucessivas depressões foram dolorosas; a história do seu casamento é a de «Um Adeus Português» ao contrário (ele teve a sorte que não teve O'Neill, mas também a coragem que O'Neill não poderia ter na época), e que Agustina Bessa-Luís retrata em Os Meninos de Ouro com a habitual e justa crueldade. A morte prematura faz dele um herói literário que Miguel Real analisa (em O Último Minuto na Vida de S.) e acaba para transferir para Snu Abecassis, transformando «o último grande amor português» num combate contra o país arcaico, mau, mesquinho, moralista, conspirador, falsamente republicano, oligárquico e herdeiro da Inquisição. Temos poucas biografias entre nós; a de Miguel Pinheiro é um retrato em pano cru de um dos últimos cometas trágicos da nossa política; o que lhe falta em interpretação sobra-lhe em petite histoire deliciosa, em registo factual, em documentação reunida e em entrevistas com actores da época (só isso justifica a abundância de reconstituição de diálogos). O desenho que se vai formando é o de um homem contraditório que prepara, sem o saber, a sua própria biografia como um dos primeiros desiludidos com a revolução e com a fé.
[FJV]
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Sugestões
domingo, 24 de outubro de 2010
Sugestões
Manuela Gonzaga conta-nos uma história verídica do princípio do século XX português que nos educa e instrói: a paixão da filha do fundador do "Diário de Notícias" e mulher do administrador pelo seu motorista. Acusada de louca pelo marido, viu eminentes médicos como Júlio de Matos, Egas Moniz e Sobral Cid emitirem pareceres no sentido da sua loucura e da necessidade do seu internamento com base em doenças como a menopausa e a ovarite. Maria Adelaide esteve internada em hospitais psiquiátricos durante anos, de onde conseguiu fugir, lutando por se defender do poder masculino, económico e científico da época, numa odisseia dolorosa que vale a pena conhecer. Uma leitura para qualquer hora do dia.
sábado, 23 de outubro de 2010
Sugestões - I
Sugestões - II
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Sugestões
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Engenharia
[FJV]
Empresas amigas
[FJV]
Voltámos
Depois da primeira emissão da nova série de A Torto e a Direito (que contou com a presença de Miguel Portas, eurodeputado do Bloco de Esquerda, como convidado), a equipa-base (faltou a Rita Severino, excelente produtora do programa) reuniu — para jantar. Foi no Mãe d’Água/La Cocina de Angel, no Jardim das Amoreiras, em Lisboa, que nos encontrámos para, imagine-se, discutir as próximas eleições e aprovar o orçamento, tudo ao mesmo tempo. Algumas imagens dão conta do grande sentido de responsabilidade (coisa muito pedida, ultimamente) da equipa.
[FJV]